domingo, 9 de novembro de 2008

PAPO ESPORTIVO COM JESSÉ OLIVEIRA

JESSÉ OLIVEIRA
SUPERVISOR DE EVENTOS DO COB (COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO)
FOTO DO DIA 25/09/2008
OLIMPÍADAS ESCOLARES 2008 - 12 A 14 ANOS - POÇOS DE CALDAS – MG

http://vivendooesporte.blogspot.com/





CAROS AMIGOS,


No mês passado entramos em contato com JESSÉ OLIVEIRA, durante a realização das OLIMPÍADAS ESCOLARES, antigos JEBS (Jogos Estudantis Brasileiros) que, neste ano, teve a cidade mineira de Poços de Caldas, como sede da sua primeira etapa.


Para quem não conhece as Olimpíadas Escolares e segundo consta no site do COB, o evento tem como principal objetivo, “aumentar a participação das escolas de todo o país e de seus alunos em torno do esporte. Ao educar o jovem através da prática esportiva desde a escola, ele reforça seus ideais do movimento olímpico, constrói os seus valores, seus conceitos, se socializa e, principalmente, vive a realidade”.


A primeira etapa em Poços de Caldas contou com cerca de 2.800 participantes, atletas na faixa etária de 12 a 14 anos representando 800 instituições de ensino públicas e privadas de 21 estados. Foram disputadas medalhas em nove modalidades: handebol, basquete, atletismo, futsal, judô, natação, tênis de mesa, vôlei e xadrez. O evento foi realizado pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) com o apoio do governo de Minas Gerais e da cidade de Poços de Caldas.
A segunda etapa está ocorrendo na cidade de João Pessoa na Paraíba, disputam atletas com idade entre 15 e 17 entre os dias 06 e 16 deste mês.


O quadro PAPO ESPORTIVO pretende informar todos os que têm interesse em trabalhar na área esportiva ou simplesmente para quem gosta e está VIVENDO O ESPORTE.


Jessé é um líder detalhista, atencioso e sempre se mostrou disposto para qualquer tipo de perguntas em relação ao evento além de atender ao convite da quarta entrevista para o quadro “PAPO ESPORTIVO”.


Confiram o que JESSÉ tem a nos dizer:


VIVENDO O ESPORTE - Qual sua relação com o mundo esportivo e como você começou a atuar na área esportiva, VIVENDO O ESPORTE?


JESSÉ OLIVEIRA Dentro da minha vida escolar sempre fui muito ativo em todas as modalidades. Gostava de praticar esportes, adorava as aulas de educação física e por isso optei por fazer a formação na área. Fiz a faculdade me formando em Licenciatura Plena e, ainda na Universidade, optei por trabalhar com o Voleibol que na época, estava apresentando bons resultados, ganhando medalhas de ouro e com isso ganhando visibilidade e projeção internacional.

Comecei trabalhando em uma escolinha de vôlei do Flamengo passando a técnico de equipes do próprio clube. Após sair do Flamengo, atuei ainda em outros dois clubes como técnico indo mais tarde trabalhar na CBV (Confederação Brasileira de Voleibol).

Trabalhei por sete anos e meio na CBV, na área técnica do Vôlei de Praia, participando de eventos como o circuito Banco do Brasil, circuito Sul Americano, fui supervisor de etapas em Mar Del Plata e em Punta Del Leste, entre outros. Durante esses sete anos e meio trabalhei ajudando no desenvolvimento do Vôlei de praia Brasileiro. Saindo da CBV fui para o COB (COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO) em 1999 para estruturar uma competição escolar que, a princípio, ia ser realizada na cidade do Rio de Janeiro. O evento tomou outro rumo com parcerias do Ministério do Esporte e do Ministério da Educação ganhando projeções nacionais.

O projeto começou a ser desenvolvido em 2000. Já no ano de 2005, tomou um novo formato agregando outros interesses e princípios, além de uma nova parceria e uma nova direção. Com a nova coordenação vieram novos valores e um novo projeto. Nesse projeto acabei trabalhando no COB dentro da Gerência de Eventos fazendo parte da equipe de organização das OLIMPÍADAS ESCOLARES.

VIVENDO O ESPORTE – Focado no projeto das Olimpíadas Escolares, qual sua função específica ou seu papel no processo gerencial do evento?


JESSÉ OLIVEIRA – Para responder a essa pergunta seria interessante passar um pouco da estrutura do COB. O COB tem uma EQUIPE DE EVENTOS e como em qualquer outra empresa, em sua hierarquia, existe a figura de um gerente geral. No caso, em Poços de Caldas, esta figura é o Coordenador Geral das Olimpíadas Escolares, Edgard Hubner. Além desse cargo existem seis supervisores, eu sou um deles. A cada evento é indicado um responsável pelo evento e neste, especificamente, eu sou o supervisor responsável, isso dentro da estrutura como um todo. Em Poços cubro a Gerência Operacional.

A gerência operacional é responsável pelo PRÉ-EVENTO, ou seja, responsável pelo transporte de todo o comitê organizador das suas cidades até o local do evento; na cidade que está sediando o evento, responsável pela operação do transporte do evento, responsável pela montagem de estrutura de trabalho do comitê organizador, ou seja, todas as salas, toda a infra-estrutura de informática. Todos esses fatores, entre outros, são monitorados e controlados durante todo o evento pela Gerência Operacional.

Nós fornecemos a infra-estrutura de trabalho para todas as pessoas que vem ao evento. Ao final do evento tudo é recolhido, tudo o que trouxemos é embalado e mandado de volta. Isso funciona evento a evento de maneira sincronizada e organizada. O pré-evento é muito mais trabalhoso do que o evento em si. Durante o evento nós vamos “apagando incêndio”; tudo o que é necessário comprar ou ajustar faz parte da nossa função. É necessário deixar a operação pronta para que as pessoas cheguem e já se tenha a estrutura pronta e organizada.

VIVENDO O ESPORTE - Continuando nesse foco do esporte escolar, qual sua visão sobre o mesmo e a relação com a formação de atletas cidadãos a curto e a longo prazo?


JESSÉ OLIVEIRA - O projeto das Olimpíadas escolares é ambicioso. Ele não esta focado na formação de atletas e sim de uma sociedade em função do esporte. Sabe-se que o numero de crianças que participam dos jogos de todas as etapas municipais e estaduais do Brasil é grande, muito poucos vão chegar ao alto rendimento. Precisamos de muitos atletas, em quantidade, para tirar qualidade. Uma vez que trabalhamos com esse numero grande de atletas formamos poucos atletas de rendimento, mas pelo menos está sendo incutida na cabeça dessas crianças a importância do esporte em suas vidas para se tornar uma pessoa saudável, pra se tornar um cidadão também saudável. Este projeto não é somente esportivo, é um projeto sócio-cultural.

Nós oferecemos inúmeras possibilidades com atividades culturais durante o evento. Muitas delas falando de meio ambiente, de turismo, da cultura em si. No projeto OLIMPÍADAS ESCOLARES são agregadas variados valores durante a realização do evento.

VIVENDO O ESPORTE - O que você daria de dica para as pessoas que tem o interesse em trabalhar com gestão de eventos esportivos e se tornar futuros gestores?


JESSÉ OLIVEIRA - A grande importância, o grande detalhe do evento é prestar atenção em tudo. A chave do sucesso é ser DETALHISTA! Temos uma equipe no COB que a cada evento tenta se aprimorar. A cada evento estamos modificando e tentando acertar sempre o melhor possível. Procuramos prestar atenção nos detalhes mudando a estrutura da área técnica, identificando os pontos falhos e os erros que cometemos. Como dito anteriormente o segredo está nos mínimos detalhes.

É muito comum, por exemplo, nos dias de hoje, ao entrar em um ginásio a ultima coisa que consigo observar é o jogo. A partida em si, é a ultima coisa que eu irei prestar atenção. Eu procuro me prender aos detalhes. Olho as arquibancadas, a estrutura que está montada, vejo se as coisas estão certas dentro de quadra. Esse é um ponto fundamental que vamos ganhando com o passar do tempo e que a cada vez vai melhorando e se tornando um conhecimento sólido e efetivo. Se ao chegar no ginásio ou em determinada arena esportiva e olhar o jogo de primeira, acabo me perdendo com os outros fatores que envolvem um evento esportivo. Ter seriedade e tato é fundamental.

Eu costumo sempre usar um exemplo de um chefe meu na CBV. A cada etapa de competições do vôlei de praia em que íamos trabalhar aprendia uma nova lição. O vôlei de praia é muito dinâmico, depende muito do fator climático, da faixa de areia e também da maré. A cada competição que nós chegávamos ele me perguntava, “Jessé, o que está faltando hoje? Onde está o erro?” - Eu procurava, observava e sempre tinha algum errinho; sempre estava faltando um detalhe...

Em uma dessas etapas, em um evento do circuito mundial em Fortaleza, tinha certeza que nada daria errado. Cheguei bem cedo na arena e tinha absoluta certeza que dessa vez ele não iria encontrar nenhum tipo de erro. Cheguei cedo, peguei tudo, revisei tudo, passei e repassei todo o chek-list, enfim, tinha certeza que nada daria errado neste dia, estava todo orgulhoso e certo que não tinha nenhum tipo de erro.

Ao chegar, meu chefe me fez a mesma pergunta de sempre – “o que tem de erro hoje? – Parei, pensei e respondi, “ hoje tenho certeza que não há nenhum tipo de erro. - Ele olhou bem, observou a arena inteira e me indagou – “Se não há erros por que a bandeira daquele país (apontando a bandeira) está de cabeça para baixo?” - Tomei todas as precauções, mas não fiquei atento a um detalhe de total importância, por mais que tenha me preocupado, uma parte ficou para trás. Em eventos, sempre tem algum detalhe que fica para trás, às vezes pode não estar ligado as suas funções específicas, mas quando você faz parte da organização de um evento você tem que sempre estar atento e chamar a pessoa responsável por aquela determinada tarefa, sempre apontando o erro, tentando ensiná-la a modificar suas atitudes de forma simples e respeitosa.

Sempre há a necessidade de prestar atenção no contexto como um todo, e para isso deve-se mostrar os caminhos para melhorar. Aprendi muito com os ensinamentos e sempre lembro desse meu chefe com total respeito e admiração.


VIVENDO O ESPORTE - Já que entramos no assunto “gestão de pessoas”, como você faz para trabalhar orientando um grupo em eventos esportivos? Como delegar funções e entender as pessoas?


JESSÉ OLIVEIRA - Aqui no evento, o nosso diretor geral é quem define algumas situações em relação a esse tema. Nós oferecemos uma proposta pra ele com pessoas para trabalhar no evento. Essas pessoas, normalmente, já são conhecidas e já trabalharam em eventos anteriormente. São pessoas que acreditamos ter a capacidade profissional para estar trabalhando inseridos na proposta do COB e, com isso, planificamos as qualidades que são esperadas junto às funções e habilidades das pessoas selecionadas.

Também é uma pratica comum trazer pessoas novas para conhecer o nosso ritmo de trabalho, dando condições e treinamento para futuros eventos. Nos eventos temos o grupo de funcionários do COB e aqueles que vêm para trabalhar em eventos específicos.

Uma das coisas que eu acho muito interessante é a proposta que viemos montando desde 2002, a aposta no voluntariado na área esportiva. Estávamos acostumados a ouvir falar de voluntários na área da educação, saúde e cultura, mas o voluntariado na área esportiva foi uma inovação no COB. Achávamos que as pessoas não iriam trabalhar bem pelo fato de estarem presentes nos eventos como voluntários, mas ao contrário disso, trabalham de maneira organizada e com seriedade. Em 2002 teve um Sul Americano e apostamos nessa idéia, “colhemos” os resultados nos Jogos Pan e Parapanamericanos com a presença de aproximadamente 20.000 voluntários.

Temos voluntários que estão conosco desde 2002, muitos deles já foram contratados como estagiários no COB e para trabalhar nos eventos. São vários os contratados. Esses voluntários não são apenas da área da educação física, temos voluntários da área médica, de jornalismo, administração, jurídica, turismo, operacional, entre outras.
Acredito neste projeto e acho muito bonito quem trabalha junto as Olimpíadas Escolares, um momento fantástico para a formação de quem está em fase de desenvolvimento no meio esportivo.

Voltando a pergunta, para orientar qualquer grupo de trabalho, é importante tratar todos com respeito reconhecendo os limites de cada um. Como dito anteriormente, as funções são distribuídas conforme o perfil profissional que cada pessoa apresenta e já conhecemos com antecedência. Para entender as pessoas, primeiro é necessário ser um pouco mais paciente do que de costume (isso às vezes é o mais difícil devido à dinâmica do evento) e usar a razão em vez da emoção.

Um comentário:

rbfmonteiro disse...

Gostei muito da entrevista. Conheço o Jessé há algum tempo, o suficiente para saber do seu valor e integridade pessoal e profissional.
Parabéns Gustavo, boa sorte.